Profunda Tristeza
É com profundo pesar que vejo as pessoas se esquivando de suas próprias verdades. Enclausurando-se em um mundo à parte, amparadas por uma cerca que as protege da realidade.
Pessoas que vêem o mundo como se estivessem vendo televisão, onde problemas são como canais: basta mudar o canal e está tudo resolvido. Esquecem-se de que o programa continua rodando, mesmo que elas não estejam mais sintonizadas nele.
Pessoas que não enxergam relação entre elas e o mundo, aliás, para elas, a vida é um grande aparelho de televisão. A ponto de usar o pronome vocês quando falam de uma situação que envolve o grupo do qual fazem parte, ao invés de usar o pronome nós. Mas elas não se incluem no “programa televisivo”, elas só assistem. O fato não tem nada a ver com elas.
Pessoas que se prostram diante de situações corriqueiras, não assumindo nenhuma posição efetiva e se escusando: “O que você quer que eu faça?”
Nunca podem fazer nada, não são responsáveis por nada, no máximo são vítimas. Vítimas do destino; vítimas de Deus, porque Ele assim o quis; vítimas de outras pessoas inescrupulosas. Nada é merecido...
Pessoas que agem com desdém, com deboche e com ironia e, quando sofrem alguma reação, o outro é grosso e ignorante. Não é culpa delas.
Pessoas que não sabem refletir, discernir e resolver qualquer questão e que, quando questionadas, respondem com evasivas, com desculpas ou evocando fatos que não possuem relação alguma com o fato em questão, tornando ainda mais difícil o entendimento entre as partes.
Muitas vezes, essas pessoas sequer ouvem o que você fala, falam ao mesmo tempo e, se ouvem, não fazem nada para entender e responder de forma clara, precisa e pontual à questão. Uma profunda falta de respeito e educação. Já dizia minha falecida avó: “Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha.” Uma regra da comunicação, tão simples quanto eficaz e tão desprezada nos dias de hoje.
Entristece-me a dificuldade que as pessoas têm em pedir desculpas quando erram; preferem atentar contra a inteligência de seus interlocutores com desculpas desconexas, dificultando a chegada a um acordo.
Essas pessoas, com dificuldades sérias de percepção de suas próprias existências, de seus atos e consequentes reflexos, acreditam ser humildes e vítimas de algozes insensíveis e arrogantes. Dói-lhes absurdamente reconhecer seus erros; possuem uma necessidade vital de achar um culpado. Não possuem consciência de que o reconhecimento de um erro nos torna melhores, mesmo que doa um pouco. Sempre dói. Então seguem persistindo em seus erros, alegando que são assim mesmo. Paciência.
Pessoas essas que acham tudo “cumpricado”; teimosas, insistem em seus pontos de vista baseados unicamente em suas crenças e orgulho. Elas possuem uma visão simplista e tacanha do mundo. O mundo delas é o que está dentro da fortaleza que as separa do resto do mundo real. Já vi pessoas formadas, que fazem cursos de pós-graduação, escrevendo sete ou oito parágrafos sem uma única vírgula. Questionadas a respeito, disseram que escrevem do “seu jeito”. Desde então eu me pergunto se existe, no Brasil, mais de uma regra gramatical da Língua Portuguesa, ou se esta regra é passível de personalização. Me ajudem!
Seria simples se todos nós não tivéssemos consciência alguma de nossos atos, do papel que desempenhamos em uma sociedade, ou dos reflexos de nossas ações nos grupos dos quais participamos, e no meio ambiente. A falta desta consciência torna as pessoas individualistas. Por isso elas nunca estão erradas, fazem o que – segundo o entendimento delas – têm o direito de fazer: parar na faixa de pedestre e em curva; lavar a calçada com mangueira; queimar sofás na rua; pichar muros; pedir propinas; empregar parentes e paro por aqui, do contrário, isso viraria um livro. Por este mesmo motivo, o de não estarem erradas, não pedem desculpas, tampouco mudam o jeito de fazer as coisas. Como elas mesmas dizem: “são assim mesmo”.
Campanhas maciças são realizadas para se tentar mudar a forma dessas pessoas agirem, para que entendam como elas afetam a sociedade e o meio ambiente, para alertá-las de regras mínimas necessárias ao convívio social. Entenda-se como sociedade, qualquer comunidade da qual façamos parte.
Infelizmente essas campanhas na surtem efeito, nem há condição de diálogo pelos motivos já expostos, pois essas pessoas apenas “mudam de canal” e “resolvem” o “probrema”. Pelo menos não deixam o “probrema” invadir o cercadinho imaginário que criam em volta de si. Elas estão na sala, e o que vêm é apenas ficção, até que a realidade lhes atinja de forma inexorável. Mais ai, ai é outra história, é vontade de Deus. O quê elas podem fazer? Não é verdade?
Alguém já disse: “A consciência do brasileiro é a polícia”.
Por isso, às vezes, fico muito triste, pois não vejo luz no final do túnel. Ando por esta cidade, moro em São Paulo – Capital –, vejo ao vivo cenas que via em filmes norte-americanos da década de 70 e 80, sobre gangues de rua do bairro do Brooklin em Nova York tais como: Brooklin Warriors e Fuga de Nova York.
Vejo carros apodrecendo – às vezes queimados nas ruas –; paredes pichadas; lixo espalhado; pessoas de todas as idades e sexos bebendo e usando drogas a céu aberto, quando não estão caídas ou brigando; crianças comprando bebidas e cigarros e, depois, fumando e bebendo na frente de policiais, que nada fazem.
Para mim, isso é uma realidade triste, fruto da ignorância e do individualismo, que tiveram sua origem na dissolução da família, base de qualquer sociedade.
A falta de consciência das pessoas é tão grande que delegaram aos professores o dever de educar nossos jovens, mas, infelizmente, se esqueceram de lhes dar a necessária autoridade.
São essas pessoas que, sem educação, sem ensino, sem noção dos limites de liberdade necessários ao convívio social, se matam em seus pseudos lares. Violam e agridem mulheres e crianças, que ameaçam e atacam professores, que não reconhecem a autoridade policial, ou temem a justiça.
Em certos momentos queria ser como elas, pois tenho certeza de que é mais fácil ser como elas do que como sou.
Marx Durkheim Hobsbawm Weber da Silva
Sociólogo e brasileiro