Problemas da Sobrecarga de Trabalho
É
muito natural ocorrer com qualquer um de nós o fenômeno da
sobrecarga de trabalho.
Sem percebermos, vamos assumindo tarefas e mais tarefas e, quando nos damos
conta, há mais para fazer do que somos capazes fisicamente de processar.
Este é um aspecto que relegamos e, involuntariamente, acabamo-nos
"afogando" em afazeres. A pior conseqüência dessa
situação é que, sem notar substituímos a qualidade
pela quantidade de trabalho, prejudicando nós mesmos e a empresa.
Esta tão corriqueira situação nos leva ao stress, os subordinados ao caos e as empresas, ao prejuízo. A sobrecarga vai-se instalando de maneira sutil ao aceitarmos mais um desafio que, aparentemente, é de pequena monta e que entendemos que nos tomará alguns minutos; ou então, ao passarmos a fazer parte de mais um grupo de trabalho que, no início, terá uma fácil e rápida tarefa a desempenhar; ou ainda ao nos prontificarmos a resolver um pequeno conflito que, depois, se revela uma verdadeira batalha de interesses e poder.
A sobrecarga de trabalho termina por nos arrastar para um círculo vicioso, pois um gerente sobrecarregado não tem tempo nem disposição para treinar subordinados; estes serão sempre ineficazes, pois não são treinados, por ter apenas subordinados ineficazes, o gerente não tem a quem delegar; por não ter a quem delegar; por não poder delegar, o gerente estará sempre sobrecarregado, e por isso não treina e o círculo está instalado, acabando com a vida e a eficácia do gerente.
Vamos tentar estabelecer algumas leis da sobrecarga:
1.
Uma vez instalada, ela
tende a permanecer a um nível constante e crescente.
Conseqüência: "mais trabalho e menos
administração".
2.
O ritmo de trabalho
(correria) tende a aumentar e a produtividade a baixar.
Conseqüência: "mais eficiência e menos
eficácia".
3.
Os subordinados tendem para
a acomodação a níveis cada vez maiores.
Conseqüência: "mais dependências e menos
iniciativas".
4.
Os subordinados tendem para
a repetição de soluções a níveis cada vez
maiores.
Conseqüência: "mais rotinas e menos criatividade".
5.
Os subordinados tendem para
a insatisfação e desmotivação.
Conseqüência, "mais conflitos e menos
realizações".
6.
Os subordinados tendem a
procurar outras atividades mais realizadoras.
Conseqüência: "mais turnover e menos
fixação".
7.
O gerente tende à
acomodação em termos de seu próprio crescimento
profissional.
Conseqüência: "mais embotamento e menos desenvolvimento".
8.
O gerente tende à
irritabilidade cada vez mais freqüente.
Conseqüência: "mais críticas e menos treinamento".
9.
O gerente tende à
centralização das decisões em índices crescentes.
Conseqüência: "menos acertos".
10. As decisões tendem a ser cada vez
mais lentas.
Conseqüências: "mais morosidade menos oportunidades".
A sobrecarga de trabalho é um acontecimento mais comum com o gerente perfeccionista e inseguro.
Estas duas características levam, inevitavelmente, o gerente a querer fazer tudo sozinho, pois ele não treina ninguém para poder dividir os seus afazeres. Em alguns casos a sobrecarga tem origem no fato de o gerente sentir necessidade de mostrar ao seu chefe e aos seus subordinados que é um homem que trabalha muito e, portanto, indispensável. É a sua maneira de mostrar que merece cada centavo do seu ganho e é aí, que ocorre um efeito perverso, porque há mais desacertos do que seria suportável, uma vez que ele não tem tempo para fazer o real trabalho de um gerente.
Quando um gerente perfeccionista e inseguro perde o seu lugar ou emprego, fica revoltado e não entende as razões que o levaram a essa situação, pois, no seu entender ele foi um "burro de carga", trabalhando sempre até altas horas, sem nunca ter tido tempo de conviver com a sua família; sem poder sequer pensar em férias.
Eduardo Ferreira Botelho
Gerente de Desenvolvimento
"O Estado" em 1988